Folha de Campo Largo - Heliberton Cesca
21/03/2012
Cinquenta e dois ataques a caixas eletrônicos foram registrados no Paraná em 2012 e boa parte deles, 27 casos, aconteceram com o uso de explosivos. Só em Curitiba ocorreram cinco explosões e seis arrombamentos com maçaricos. Os dados são do Sindicato dos Vigilantes de Curitiba e Região e incluem também as tentativas sem êxito.
O número registrado no estado em 90 dias é pouco menor do que o verificado em todo o ano de 2011. Houve 69 ataques a caixas eletrônicos no Paraná no ano passado (incluindo explosões e arrombamentos com maçaricos). Desses, 50 ocorreram em Curitiba e região.
Se o ritmo de roubos e tentativas de arrombamento de caixas eletrônicos se mantiver até o fim deste ano, o Paraná pode registrar mais de 200 casos em 2012. O número é cerca de três vezes maior do que a quantidade de ataques de 2011. Para o delegado-chefe da Delegacia de Furtos e Roubos de Curitiba, Rodrigo Brown de Oliveira, a falta de investimento em segurança por parte dos bancos e a fiscalização falha do Exército em relação ao comércio de explosivos são dois motivos que explicam esses números.
Brown afirmou que os ataques em Curitiba e região diminuíram após a prisão de uma quadrilha que agia nessa região, em 6 de fevereiro. Três pessoas suspeitas de integrar uma das gangues da dinamite foram presas e outra morreu em confronto com a polícia. Parte da quadrilha segue atuando em São Paulo e Santa Catarina e seria responsável pelos ataques em cidades paranaenses próximas à divisa com esses dois estados, de acordo com o delegado.
Houve prisões ainda, segundo a Polícia Civil, em Ponta Grossa, Cianorte e em duas cidades catarinenses: Penha e Navegantes. Mesmo assim, pelo menos três explosões foram registradas na capital após as prisões citadas pelo delegado, de acordo com o balanço do sindicato. "A Polícia Civil é apenas a ponta do iceberg. O trabalho é prejudicado pela falta de iniciativa de outros setores", argumentou o delegado.
A opinião do delegado é semelhante a do presidente do presidente do Sindicato dos Vigilantes de Curitiba e Região, João Soares, que apontou outro problema. Segundo ele, alguns ataques não são denunciados pelos bancos à polícia para não denegrir a imagem das instituições. "É uma situação assustadora que expõe os trabalhadores e os clientes dos bancos e dos comércios com esses equipamentos", afirmou Soares.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informou, em nota, que as instituições associadas têm como sua maior preocupação a segurança de clientes, funcionários e consumidores. Por isso, investem anualmente nos mais variados itens que compõem a segurança, sendo ela física ou tecnológica, quase R$ 10 bilhões. A reportagem procurou a 5ª Seção do Exército, responsável pela comunicação social da instituição para comentar o assunto. Porém, não obteve resposta sobre as condições da fiscalização.
Além dos ataques aos caixas eletrônicos, houve 29 assaltos e tentativas de roubo a bancos no Paraná em 2011. Neste ano já houve dez registros desse tipo.
Casos - Um dos mais lembrados é um roubo na metade de janeiro, quando bandidos usaram dinamite para explodir um caixa eletrônico dentro de um shopping automotivo no bairro Tarumã, em Curitiba. Na explosão, duas funcionárias da equipe de limpeza ficaram feridas. A quadrilha fugiu levando dinheiro do terminal, além de duas armas e dois coletes balísticos de seguranças.
Explosivos - Roubo de dinamite é constante. Desde junho do ano passado, foi roubada ou furtada meia tonelada de dinamite de pedreiras e de uma fábrica de explosivos no Paraná. Levantamento feito pela Gazeta do Povo com base em dados do Exército Brasileiro e de casos divulgados pela Polícia Civil mostra que 560 quilos de dinamite sumiram do paiol de empresas que utilizam dinamite em quatro situações distintas, todas em cidades da região metropolitana de Curitiba. A Polícia Civil investiga a relação destes casos com os ataques a caixas eletrônicos. Porém, existe a hipótese de que nem todo o explosivo roubado abastece quadrilhas de roubo a bancos.
O último caso aconteceu no dia 30 de janeiro deste ano. A Britanite, fábrica de explosivos em Quatro Barras, informou o roubo de cerca de 200 quilos de bananas de dinamite. Em Curitiba, a Delegacia de Explosivos, Armas e Munições (Deam), especializada na área, coopera com a Delegacia de Furtos e Roubos na investigação sobre os ataques a caixas eletrônicos. O delegado Roberto Heusi de Almeida Júnior disse que as quadrilhas não sabem usar corretamente a dinamite.
Para o delegado, existe um comércio de explosivos entre quadrilhas de diferentes estados para dificultar a fiscalização da polícia. Ele citou o caso de um homem preso em São Paulo tentando vender explosivos fabricados no Rio Grande do Sul. Porém, ele cita que pode haver relação entre o roubo de explosivos e os ataques a caixas eletrônicos e diz que as empresas estão percebendo isso e tentando reforçar a segurança.
Pedreiras - O professor do curso de Geologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Mauro Salgado
Monastier, que ministra a disciplina de Desmonte de rochas com o uso de explosivos, diz que parte da dinamite pode ter como destino pedreiras pequenas, que não têm autorização do Exército para comprar dinamite e recorrem aos produtos furtados. "O Exército é rigoroso na fiscalização. A legislação é boa, o paiol tem que ter dois cadeados, porta resistente, cerca de arame farpado. Porém, tudo isso não basta. O bandido passa por cima", afirma.
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