Apenas 11% das transações bancárias são feitas em agências. Ainda assim, movimento “arranha” imagem das instituições
Em 2011, segundo pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o canal com a maior participação nas transações bancários foi a internet, responsável por quase um quarto das operações. Por outro lado, a “boca do caixa” respondeu por 11% das transações – menos que o autoatendimento e os cartões.
O levantamento da Febraban mostra ainda que o uso do celular para fins bancários apresentou crescimento exponencial nos últimos quatro anos, de praticamente inexistente em 2008 para uma penetração de mais de 3 milhões de contas correntes em 2011. Ou seja, cada vez mais os clientes resolvem suas questões bancárias na palma da mão. A exceção fica com operações como a assinatura de contrato de financiamento imobiliário e concessão de empréstimos, que só podem ser realizadas nas agências.
Segundo o professor de economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) João Basílio Pereima Neto, cerca de 70% das transações são feitas por 15% dos clientes, que já estão acostumados com canais alternativos de atendimento. “O impacto é reduzido para os bancos porque os principais clientes, as pessoas jurídicas e as pessoas físicas das classes A e B, que são as que movimentam os maiores valores, o fazem pela internet ou por outros canais. As instituições bancárias não se prejudicam no trimestre, muito menos no ano”, salienta.
Wilson Paese, assessor de investimentos da Omar Camargo Investimentos, também afirma que não há impacto significativo para os bancos porque as transações continuam normalmente. “O usuário vai continuar a pagar as suas contas, com uma dificuldade a mais para aqueles não possuem acesso à internet”, avalia Paese.
Prejuízos
Se para os bancos os negócios são, no máximo, adiados, para os usuários, segundo Alberto Borges Matias, diretor-presidente do Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração (Inepad), sobram os problemas. “A grande perda é para a sociedade, que precisa de recursos para pagar suas contas e não consegue, por vezes, acessá-los. Veja uma empresa, que precisa de capital de giro: com a greve, não pode assinar o empréstimo e fica sem o dinheiro. Como consequência, terá que pagar juros e ser até contestada. Para cobrir o tempo de greve, o empréstimo terá que ser maior”, ressalta Matias.
“Pacotão” aos moldes dos metalúrgicos é improvável
Apesar dos transtornos causados à população, a greve tem sido a única ferramenta para garantir ganhos reais aos bancários. É o que mostram os resultados obtidos nas negociações nos últimos anos. De 2004 para cá, em todos os anos os profissionais que atuam em bancos pararam. Por outro lado, as propostas originais oferecidas pela entidade que representa os bancos, em geral, foram menores ou iguais à inflação – fato que empurra os bancários para a paralisação.
Negociações no estilo “pacotão”, como nos moldes da Renault, que fechou um acordo de três anos para seus funcionários, não conseguem avançar. Um acordo de dois anos garantiria, por exemplo, um ano sem greve para a população, fato inédito desde 2004.
Antonio Luiz Fermino, secretário geral do Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região, lembra que já foi negociado um acordo maior, que funciona para as cláusulas trabalhistas, de questões como a regulamentação do intervalo ou do auxílio-creche, mas o impasse continua quando o assunto é reajuste. “Já negociamos propostas para dois anos, mas elas nunca tinham regras claras quanto ao aumento real, principalmente no segundo ano. Desde 2004 conseguimos ganho real por causa da greve, pois, sem ela, em 2003 não conseguimos nem a inflação. As cláusulas sociais até avançam, mas quando discutimos as econômicas [tudo] trava”, pondera.
Apesar de os impactos financeiros serem minimizados pelo uso cada vez maior de outros canais, os bancários buscam, com o fechamento das agências, atingir outro bem valioso no mercado: a imagem. “O sistema financeiro investe muito em imagem para competir. A greve, além dos impactos financeiros, arranha a imagem do banco. A sociedade pode pensar que a greve é um modelo ultrapassado, mas é a única ferramenta que se encaixa na relação entre bancos e bancários”, ressalta.
Ele conta ainda que desde junho a categoria negocia com os bancos, apesar de a data-base ser em setembro, mas não encontrou propostas satisfatórias. “A greve é o último mecanismo, mas, quando chega à paralisação, é porque não se chegou a um acordo”, afirma Fermino. A Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), braço sindical da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), não se posicionou em relação ao assunto.
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