quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Alta adesão dos bancários à greve não causa transtornos

Jornal Gazeta do Povo
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Publicado em 30/09/2010 | Alexandre Costa Nascimento - colaboração de Franciele Ciconetto

Segundo sindicato, 80% da categoria aderiu ao primeiro dia da paralisação em Curitiba e metade das agências não funcionou

Apesar de contar com alto índice de adesão e de fechar mais da metade das agências de Curitiba, o primeiro dia da greve dos bancários não chegou a causar transtornos à população que precisou de atendimento. Durante a tarde de ontem, a maioria dos bancos da capital permanecia com baixo movimento e, mesmo nas agências fechadas pelos grevistas, os caixas eletrônicos e serviços de autoatendimento seguiram funcionando normalmente, atendendo à demanda. A situação, no entanto, tende a se complicar caso a greve prossiga nos próximos dias, já que a virada do mês coincide com o pagamento de cerca de 27 milhões de pensionistas e aposentados do INSS.

Segundo balanço do Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região, 235 agências fecharam em Curitiba e região metropolitana, além de 12 centros administrativos. Foram 109 agências de bancos públicos e 126 de instituições privadas, representando 52% do total de agências. A entidade calcula que 14.450 trabalhadores tenham aderido à greve, o que representa 80% da base sindical. No interior, 152 agências estão fechadas e 2,6 mil trabalhadores pararam.
“Não vamos impedir ninguém de entrar nas agências. Os caixas automáticos seguem funcionando”, garante o presidente do Sindi­cato dos Bancários, Otávio Dias. Segundo ele, a intenção do movimento não é prejudicar a população, mas atingir os banqueiros.

Reivindicações

A categoria revindica um reajuste recorde de 11% (7% de aumento real, mais 4,29% de reposição da inflação medida pelo INPC) e recusou a proposta oferecida pela Fede­ração Nacional de Bancos (Fena­ban) de reposição da inflação. A entidade patronal publicou nota oficial manifestando “sua firme intenção” de adotar medidas legais para garantir o acesso e o atendimento da população nas agências e postos bancários.

A federação ainda acusa o movimento sindical de “radicalização” por ter abandonado as negociações, apesar de a entidade ter garantido reposição da inflação para negociar aumento real. A entidade afirma que aceita discutir reajuste real dos salários e de­­mais benefícios da convenção coletiva, mas que não pode aceitar um “índice exagerado” como o pleiteado pelos trabalhadores. O sindicato garante que não houve uma contraproposta ao pedido dos trabalhadores. “Nós achamos essa proposta [de reposição da inflação] uma provocação”, diz Dias.

Pelo ar

O sindicato acusou o HSBC de práticas “antissindicais” por ter usado helicópteros fretados para transportar funcionários até o Centro Administrativo Xaxim, em Curi­tiba, e furar o bloqueio do movimento grevista. Os funcionários teriam sido levados de ônibus até o heliporto do Parque Barigui, para então voarem até a sede do banco. A prática já foi adotada pelo HSBC durante as greves dos últimos anos. O banco considera a prática legal e argumenta que ela faz parte de um plano de contingência.

Profissional da paralisação:
“Salário” de piqueteiro sobe 25% em dois anos

Na paralisação deste ano, o Sindicato dos Bancários voltou a contratar “grevistas” para engrossar as fileiras do movimento, repetindo prática usada nos últimos anos. Os clientes que chegavam ontem às agências do centro da capital eram informados pelos “piqueteiros” sobre o fechamento das agências e as razões da greve dos bancários.

A Gazeta do Povo apurou que cerca de 80 “grevistas” foram contratados pelo Sindicato dos Bancários, recebendo, cada um, R$ 50 por dia de trabalho e lanche. O valor pago aos piqueteiros na greve de 2010 é 25% maior que o pago há dois anos – no mesmo período, o salário dos bancários teve reajuste nominal de 14,6%.

A prática foi condenada em nota da Febraban. “Os bancos respeitam o direito de greve. O que não se pode admitir são os piquetes contratados que barram o acesso da população às agências e postos bancários para impor uma greve abusiva”, diz o documento. Segundo o presidente do sindicato, Otávio Dias, as pessoas foram contratadas para ajudar o que classifica de “estrutura do processo de greve”. “Isso inclui a conscientização da população, distribuição de panfletos e colocação de faixas”, justifica.

“A gente ganha R$ 50 por dia. É melhor que fazer bico”, conta Moisés dos Santos, atualmente desempregado. Já Luiz Carlos Ribeiro afirma que a desvantagem é o horário da “jornada”. “Eu acordei às 5 da manhã. Tem de chegar cedo ou fica sem vaga”, diz.

20% das agências foram afetadas em todo o país

No primeiro dia da greve nacional dos bancários, a paralisação atingiu pelo menos 3.864 agências em todas as capitais e inúmeras cidades do interior, segundo balanço preliminar divulgado no fim da tarde de ontem pela Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Financeiro (Contraf-CUT). Apesar de parcial, o movimento começou com mais força do que no ano passado, quando os trabalhadores fecharam 3.585 agências.

“Como em anos anteriores, a tendência é o índice de paralisação aumentar a partir do segundo dia, uma vez que os bancos até agora não acenaram com a retomada das negociações para apresentar uma proposta que contemple as reivindicações da categoria”, avaliou o presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro.

A greve atinge todos os 26 estados e o Distrito Federal e todos os bancos. Em carta aberta aos clientes, os bancários explicam os motivos pelos quais estão em greve. “Para atingir lucros absurdos, os bancos massacram os bancários. Nos obrigam a vender produtos aos clientes, mesmo que eles não precisem. Exigem metas cada vez maiores, impossíveis de serem cumpridas. Por causa do assédio moral e da pressão insuportável, os bancários estão adoecendo cada vez mais. Mas os banqueiros não querem discutir medidas para preservar a saúde dos trabalhadores”, diz a carta.

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