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Publicado em 02/10/2010 | Alexandre Costa Nascimento
Liminar obtida por sindicato proíbe voos, mas grevistas não poderão mais impedir a entrada de trabalhadores no Centro Administrativo do HSBC
Com as conversas rompidas na mesa de negociações e o futuro da greve ainda indefinido, a disputa entre o Sindicato dos Bancários e as instituições financeiras transformou-se em uma guerra de liminares que, ontem, praticamente inverteu a logística de acesso dos funcionários do HSBC ao Centro Administrativo do Xaxim, em Curitiba. Uma liminar proíbe o banco de usar helicópteros para transportar os trabalhadores; outra impede os grevistas de bloquear o acesso por terra ao prédio.
A primeira liminar foi obtida pelo Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região, contra o procedimento que o HSBC vinha usando para furar o bloqueio dos grevistas. A decisão da 16.ª Vara da Justiça do Trabalho, expedida na tarde de ontem, considerou os transtornos à população decorrentes do excesso de voos e o risco à segurança dos funcionários do banco em função dos relatos de disparos de fogos de artifício em direção às aeronaves. Logo depois, o HSBC obteve no mesmo tribunal um interdito proibitório, instrumento jurídico que impede a realização dos piquetes na frente das agências da rede. Na prática, com o acesso por terra liberado, o banco deixa de ter a necessidade de contratar os helicópteros.
Suspensão
Ao acolher o pedido do sindicato contra o uso dos helicópteros, o juiz considerou no seu despacho que o transporte aéreo “não é procedimento adotado normalmente” e determinou a suspensão dos voos até que o HSBC comprove o preenchimento de todas as condições legais de segurança, sob pena de aplicação de multa de R$ 50 mil por voo. Como o número de voos vinha se mantendo na média de 50 por dia, o descumprimento da decisão poderia custar até R$ 2,5 milhões por dia ao banco.
Neste ano, a empresa contratada para fazer o transporte dos funcionários do HSBC foi a Helisul Taxi Aéreo, que colocou cinco helicópteros com capacidade entre 5 e 7 passageiros cada, o que demanda cerca de 50 voos diários entre o heliporto do Parque Barigui – ponto de concentração dos funcionários – e o heliponto do banco no Xaxim. O banco paga à empresa cerca de R$ 4,5 mil por hora de voo, com a média de uso de 10 horas de operação por aeronave, segundo um funcionário da Helisul. Por meio de sua assessoria de imprensa, o HSBC afirma que por uma “questão de contingência”, não pode confirmar as informações relativas ao custo das operações e número de funcionários transportados.
Tanto o HSBC quanto o Sindicato dos Bancários alegaram, no fim da tarde de ontem, ainda não terem sido notificados oficialmente sobre as liminares que suspendem o uso de helicópteros e impedem os piquetes. O banco afirmou ainda que irá comprovar que cumpriu todas as exigências impostas pelas autoridades responsáveis pela aviação civil do país.
Bradesco
Ainda ontem, o sindicato conseguiu uma liminar em mandado de segurança derrubando o interdito proibitório para as agências do Bradesco de Curitiba e região. No seu despacho, o desembargador do trabalho Dirceu Pinto Junior considerou que a concessão do interdito ao Bradesco “implica evidente restrição ao direito de greve”.
Fogos ameaçavam segurança de aeronave
A aposentada Maria da Glória Soares, que mora exatamente na frente do heliponto do HSBC no bairro Xaxim, em Curitiba, reclama do barulho dos helicópteros que, segundo ela, começa por volta das 6 horas. “Toda greve é a mesma coisa. É um barulho infernal, uma poluição sonora terrível que chega a fazer a casa tremer e assusta as crianças e os animais”, descreve. Maria da Glória vive com dois netos pequenos: uma menina de 3 anos e um menino de 2.
Mas, segundo a moradora, o barulho é apenas um dos transtornos causados pelos helicópteros na região. “O medo maior é da eventualidade de um acidente, que pode causar uma catástrofe. E ninguém está livre, já que são muitos helicópteros operando simultaneamente”, diz. A tragédia que Maria teme poderia ser causada pelos próprios vizinhos. A aposentada cita relatos de disparos de fogos de artifício em direção aos helicópteros, supostamente feitos por moradores incomodados com os ruídos.
“O disparo de fogos de artifício coloca em risco a vida das pessoas, já que pode ocasionar a queda repentina das aeronaves, inclusive sobre as casas, provocando graves acidentes, dependendo da área que o disparo atinge”, explica o comandante Henrique Lopes, instrutor de voo de helicópteros de uma escola de aviação civil em Curitiba.
Crime
Lopes adverte ainda que lançar objetos contra aeronaves em voo constitui crime contra a segurança dos transportes aéreos, mas garante que o aumento no número de voos na mesma região não diminui a segurança. “Toda operação, de cada aeronave, é respeitada segundo as leis do uso do espaço aéreo e efetuada por conta e risco de cada comandante, que é responsabilizado caso alguma lei de segurança seja negligenciada”, afirma.
O comandante critica a decisão da Justiça que impediu – em medida liminar – a operação de transporte de funcionários do HSBC alegando falta de segurança. “Desde que o taxi aéreo seja feito por uma empresa autorizada pelos órgãos competentes e que conte com uma tripulação treinada, ela tem o direito de transportar qualquer pessoa. Daí a Justiça não poder, a meu ver, impedir ninguém de voar em função de ser funcionário de um banco”, critica.
Sem receber contraproposta, assembleia apenas avalia paralisação
No fim da tarde de ontem, o Sindicato dos Bancários promoveu uma assembleia para avaliar o movimento. Como não houve nenhuma contraproposta por parte dos bancos às reivindicações da categoria, a greve continua por tempo indeterminado. Os bancários reivindicam 11% de reajuste, valorização dos pisos salariais e maior Participação nos Lucros e Resultados (PLR). Os bancos, por sua vez, ofereceram reajuste de 4,29%, referente a reposição da inflação.
O terceiro dia da greve dos bancários levou ao fechamento de 275 agências em Curitiba e região metropolitana – sendo 114 de bancos públicos – totalizando cerca de 15 mil bancários parados. No interior do estado, foram fechadas 235 agências e 3.752 trabalhadores permaneceram em greve. Ao todo, no estado são 510 agências paralisadas, com cerca de 18,9 mil bancários de braços cruzados.
De acordo com a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), 6.215 agências não funcionaram ontem em todo o país, o que representa 31% do total (19,8 mil agências). Apesar de a negociação com os bancos nacionais continuar parada, os cerca de 5 mil funcionários do Banco de Brasília chegaram a um acordo com a instituição e conseguiram 12% de reajuste e 7% de aumento no valor das gratificações. (ACN, com Folhapress)
Investigação afetou empresário
Acusado pela CPI do Narcotráfico de envolvimento com o tráfico de drogas – e inocentado posteriormente –, o empresário Hissan Hussein Dehaini, proprietário da empresa de taxi aéreo Icaraí, alega que perdeu o contrato do HSBC por causa das intrigas geradas pela investigação. “Antes da absolvição, muita gente tinha dúvida e alguém ligado ao sindicato [dos bancários] chegou a questionar o HSBC sobre o envolvimento do banco com um ‘traficante’. Essas acusações me custaram um contrato milionário”, lamenta o empresário, que durante 8 anos fez o fretamento dos voos de funcionários do banco durante a greve dos bancários.
Segundo ele, por dia, sua empresa chegava operar 150 voos para o banco. “Conseguia faturar R$ 90 mil em um dia. Em uma greve de 15 dias, basta fazer a conta para ver o que isso significa”, diz. O empresário agora pede na Justiça uma indenização de R$ 5 milhões contra o estado do Paraná pelas acusações. (ACN)
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