Paraná Online - Magaléa Mazziotti
Os bancários de Curitiba e região metropolitana amanhecem de braços cruzados nesta terça-feira. A decisão pela greve geral por tempo indeterminado foi tomada na noite desta segundafeira (26), em assembleia com participação de mais de 600 trabalhadores na capital.
A categoria rejeitou, por ampla maioria, a nova proposta da Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), de reajuste salarial de 8%, que representa R$ 2 a mais nos pisos salariais que a oferta anterior (7,8%) e equivale a um ganho real de apenas 0,56%. A categoria reivindica 12,8% de aumento. O objetivo da mobilização é fechar as 468 agências da Grande Curitiba - 361 na capital e 107 na região metropolitana -, além dos doze centros administrativos.
"A greve é uma resposta ao descaso da Fenaban, que apresentou apenas o índice de 8% de reajuste como proposta, ignorando todas as reivindicações por melhores condições de trabalho, mais saúde e mais segurança", afirma Otávio Dias, presidente do Sindicato dos Bancários de Curitiba e região. "Os representantes dos trabalhadores já haviam avisado que não sairíamos desta campanha salarial sem discutir questões fundamentais, como emprego e combate às terceirizacões", completa.
Mais uma vez, a discrepância entre a lucratividade dos bancos e a evolução salarial dos trabalhadores resultou em paralisação. O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) aponta que a folha de pagamentos dos funcionários das sete principais instituições financeiras do País é coberta com sobras somente com o total arrecadado com as tarifas bancárias, ou seja, a chamada prestação de serviços.
O economista do Dieese Paraná, Sandro Silva, destaca que da receita obtida com a prestação de serviços nos bancos Itaú-Unibanco, Santander, Bradesco, Banco do Brasil, Caixa, Safra e HSBC, é possível quitar toda a folha de pagamento e, ainda, apresentar um resíduo de 29,42% de saldo.
"Vale lembrar que a receita com as tarifas não representa nem a metade do faturamento dos bancos", ressalva o economista. Isso só reforça a lucratividade do setor financeiro, que apresentou o terceiro maior crescimento na economia nacional na comparação entre o segundo trimestre de 2011 e o mesmo período de
2010. Enquanto no ano passado, os bancos somaram um lucro líquido de R$ 22,1 bilhões, neste ano eles já atingiram R$ 26,5 bilhões somente nos três primeiros meses de 2011. "A evolução salarial da categoria apresentou avanços a partir de 2004, já que antes eles não conseguiam repor nem a inflação, porém, os ganhos reais de lá para cá não somaram 10%", destaca Silva.
Nos últimos três anos, a categoria somou mais de um mês de paralisação, porém, em todos os acordos os funcionários precisaram ceder drasticamente. "É notório que com esses avanços tecnológicos, que possibilitaram a ampliação da rede de autoatendimento, dos correspondentes bancários e a própria internet, os funcionários perderam força no momento de pressionar, já que apenas com um tempo mais longo de paralisação que os prejuízos são percebidos", explica Silva.
O salário de ingresso também demonstra que a riqueza gerada pelos funcionários não se traduz em salários mais atraentes. Na convenção coletiva de 2010, fixou-se R$ 794,98 para a portaria e R$ 1.140,13 para caixa e escriturário. Dados do Dieese demonstram que o piso da categoria no Brasil, equivalente a US$ 757, é mais baixo do que o dos bancários no Uruguai (US$ 1.039) e quase metade do recebido pelos trabalhadores argentinos, cujo piso é de US$ 1.432. O piso dos brasileiros é equivalente a US$ 6,3 por hora de trabalho, enquanto os argentinos recebem US$ 9,8 por hora, seguidos pelos uruguaios, que ganham US$ 8 por hora.
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